"Projeto do PSB em Pernambuco é o Poder pelo Poder". Diz Marília Arraes
Após anos de uma relação turbulenta com o PT, a deputada federal Marília Arraes (PE) anunciou na sexta-feira a saída do partido e a filiação ao Solidariedade. O plano imediato é disputar o governo de Pernambuco, inaugurando um novo palanque lulista no estado — o “oficial” é o do colega de Câmara Danilo Cabral, do PSB, partido que Marília também já integrou e com o qual vive às turras em função do cenário local. Em entrevista, ela culpa o senador Humberto Costa (PT-PE) por sua saída e, mirando o eleitorado de Lula no estado, evita críticas ao antigo partido.
Por que a senhora trocou o PT pelo Solidariedade?
Tomei essa decisão em função de questões locais. Escolhi o Solidariedade por causa do alinhamento formal que haverá com a campanha do (ex-)presidente Lula. O que fiz foi sair da zona de conforto.
O PT tem dificuldade para se renovar, e a senhora tem 37 anos. Sua saída pode atrapalhar o partido nesse sentido?
Quem tem que responder é o PT, não sou eu. Mas as dificuldades foram locais. Essa dificuldade de renovação não é só no PT, é em todas as áreas da vida.
A senhora espera que o Lula suba no seu palanque? Vocês conversaram nesta semana...
Não vou falar nada do conteúdo da minha conversa, mas apoio o Lula onde eu estiver. As manifestações que o PSB tem feito mostram desespero e que estão com medo. (O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que o partido não trabalha com a hipótese de Lula ter dois palanques em Pernambuco)
O PT aceitou colocar a senhora como candidata ao Senado. Por que, mesmo assim, decidiu sair?
Nunca havia brigado por essa indicação. Se tivesse sido posto: “Seu papel vai ser esse, porque a gente precisa de mais cadeiras no Senado”, seria diferente. Minha decisão foi tomada por causa de anos de desgaste promovido por uma liderança local, que não aceita renovação. Foram anos de ataques públicos, de desqualificação, e misoginia.
A senhora está falando do senador Humberto Costa?
Sim. Inclusive, ele continua me atacando, me acusando de ter projeto pessoal. Se eu tivesse projeto pessoal, estava em busca de cargo. Quem tem projeto pessoal é ele, quem sacrifica o PT de Pernambuco é ele.
Em 2021, a senhora disputou o cargo de segunda secretária da Câmara sem o aval do PT. Esse episódio é usado para acusá-la de colocar projetos pessoais em primeiro lugar. Como responde?
Essa articulação para eleição da Mesa foi de um grupo, e quem teve coragem de encarar essa disputa fui eu. Faz parte da disputa de poder normal. Homens fazem isso o tempo todo. Quando uma mulher faz, é considerada subversiva. É importante dizer que meu nome era a indicação oficial do PT. Na votação que foi feita na bancada para retirar meu nome, o resultado foi 24 a 22 (pela retirada). Ninguém que faça esse tipo de articulação deve ser crucificado.
Em 2018, a senhora foi retirada da disputa do governo. Gerou desgaste?
Discordei, achei que foi uma decisão equivocada, porque o PSB ficou neutro na eleição presidencial. Mas é uma articulação possível em qualquer partido.
A sua principal bandeira vai ser a oposição ao PSB?
Não, a principal bandeira vai ser a defesa de Lula. Sou oposição ao PSB há oito anos e me mantenho onde sempre estive. O projeto do PSB é um projeto de poder pelo poder. Não está sendo bom para Pernambuco.
O seu eventual governo terá secretariado com divisão de postos igualitária entre homens e mulheres?
A gente tem esse objetivo. No mínimo, terá de ser igual entre homens e mulheres.
O Globo
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